Como em todos os momentos que destinava apenas a serem seus, aquele não era excepção.
Deixou-se envolver pelo céu estrelado daquela noite de quase verão e recordou vários momentos que tinham permanecido no seu cérebro. Momentos que guarda com todo o carinho.
Que a fazem esboçar um sorriso,
que a fazem levar as mão à cabeça e pensar 'isto não foi possível',

que a fazem relembrar o quão a conseguem fazer feliz com simples gestos ou palavras.


Mas nessa noite, havia um momento que tinha ficado marcado de forma diferente, tinha-lhe posto uma dose extra de carinho, ouvia-o repetidamente...


'Amo-te. Achas muito forte?'

'Se o sentires, claro que não.'

'Sinto.'

Sonhos pintados.

Dando passinhos pequeninos caminhava ao longo de um corredor sem rumo certo, apenas caminhava e muitas vezes fazia-o de olhos fechados. Enquanto os mantinha fechados, respirava e sentia-se outra pessoa, sentia-se diferente..


E caminhava ...


Sentiu uma sensação estranha nos seus pés descalços e nas suas mãos que passeavam longe do seu tronco e ao abrir os olhos com estranheza reparou que estavam inundadas de tinta... Por onde passava, deixava uma marca. Lentamente girou sobre si e reparou que enquanto caminhava de olhos fechados, expressava-se, deixava pequenas marcas que contavam os seus desejos, sonhos.. Haviam palavras escritas, pequenos esboços de desenhos atrás de si.
Estagnou e olhando para as suas mãos continuou a enfeitar tudo ao seu redor.
Criou o seu mundinho, aquele que lhe trazia um aconchego que não conseguia explicar, lhe roubava um sorriso tímido vindo de mãos dadas a um brilho inexplicável dos seus olhos em tons de esverdeado.
Sentiu a sua pulsação aumentar, não sabia explicar o motivo no entanto fechou os olhos e continou a sonhar, a desenhar e escrever palavras soltas que lhe faziam todo o significado no momento. Beijos, abraços, sorrisos... tantas palavras que soltas pareciam não ter signifcado mas quando associadas a momentos se tornavam gigantes.


Pintou todos os seus sonhos, idealizou o seu mundo, os seus desejos.

Sentia-se leve, realizada, feliz, o seu coração tinha acalmado. Tinha-se pronunciado; gritado tudo aquilo que guardava nos seus espacinhos, todos eles.


Se os sonhos iriam ser realizados?

Se iria poder partilhá-los com quem desejava?
Não conhecia a resposta... Apenas tinha uma certeza.. Sentiu-se feliz naquele corredor com quem partilhou a sua história e expressou os seus sentimentos.


Se estes iriam permanecer ali, ser apagados ou partilhados?



Apenas o tempo possuí as respostas.


somos crianças, somos contadores de histórias, somos um conjunto infinito de pontos.





Somos crianças, somos contadores de histórias, somos um conjunto infinito de pontos...



Dificilmente, para não dizer mesmo impossiveis de definir, assim somos nós.
Sabemos usar todos os sorrisos e gargalhadas que possuímos e aplicá-los nos momentos mais indicados. Desde os momentos em que caímos literalmente a rir até ao simples esboçar de um sorriso por pura simpatia.
Quando ouvimos a célebre frase 'Era uma vez..' temos uma tendência incrível a concentrarmo-nos mais do que o normal, pois remete-nos para a nossa infância, onde nos aconchegavamos, nos lençóis, ou aninhávamos no colo, ombro do nosso contador e entrávamos num mundo recheado de fantasia que nos fazia viajar para um mundo do imaginário onde nos sentiamos seguros.
'Todos temos uma criança dentro de nós'; é mais uma das frases que anda de mãos dadas a nós. Usamos essa criança para fugir ao duro mundo em que caminhamos, usamo-la para sonhar, fantasiar, arrisco-me mesmo a dizer.. para mostrar o nosso lado mais descontraído, menos sério, o lado em que sabemos que façamos o que fizermos, seremos julgados como crianças. Simples seres sonhadores.. capazes de contar uma história numa simples brincadeira em que fazem bolinhas de sabão, seres que se agarram a pequenissimas coisas e lhes dão um significado do tamanho do universo.



Assim somos nós.

Crianças, que aprendem a caminhar num duro deserto onde as decisões finais são sempre nossas, onde o egoísmo muitas vezes é revelado.
Contadores de histórias começadas com um 'era uma vez'.
Apologistas de brincadeiras como fazer bolinhas de sabão onde cada uma delas representa um momento mais ou menos alegre, experiências, marcas...
Somos uma 'massa' sem forma, sem definição.
Somos únicos, cada um com uma cor e forma diferentes.
Num somatório gigante somos um conjunto infinito de pontos.



Somos crianças, somos contadores de histórias, somos um conjunto infinito de pontos...