Don't play with me



1,2,3,4,5,6,7 . . .

Foi criança convidada a jogar às escondidas, criança que caminhou para uma parede que parecia interminável relativamente ao seu pequenino tamanho. Quase como impulso deixou que as suas mãos viajassem até aos seus olhos, estando já estes fechados e com todo o gosto começou a contar, onde o contar era irrelevante pois os seus ouvidos apuraram-se para ouvir os passos, a direcção destes. Sorriu pois conseguia quase adivinhar onde se encontravam os restantes jogadores.

. . . 17,18,19,20. . .

E deixaram de se ouvir risos, respirações ofegantes, qualquer tipo de objectos a ser deslocado, passos acelerados, empurrões ou outra espécie de ruído.

Contava apenas mecânicamente. Os ouvidos continuavam centrados no objectivo de ouvir a mais pequenina coisa para perceber onde se encontrava quem quer que fosse.

. . . 47,48,49,50.

Voltando-se subitamente e ainda com os olhos meio atrofiados do tempo que haveram estado na escuridão, sorriu em busca do mais pequeno sinal que indicasse onde pudesse estar alguém.

Avançou para o local de onde ouviu os ruídos, confiando sempre no único sentido que tinha: a audição.

Não havia sinais de ninguém, não havia pontas de cabelo a vista nua, sapatos mal escondidos, roupa mal disfarçada nas cores da natureza, não havia sinais de respiração.

Vagueando pelos locais nos quais tinha esperança de encontrar jogadores, encontrou apenas o vazio.

Sentou-se no meio daquele jardim que outrora estava "recheado" de jogadores, pessoas dispostas a esconder-se mas com vontade de dar a cara, onde a única pessoa que ali se encontrava era ela.

Haveram brincado consigo, com a sua tranquilidade, vontade própria de enfrentar o desafio que lhe havera sido proposto.

Decidiram fugir, deixar para trás parte do seu grupo, ou espécie disso.
Percebeu que se encontrava sozinha.

Permanecendo sentada, abraçou os seus joelhos, deitou a sua cabeça totalmente desfeita, encostou o seu peito destroçado e percebeu que tinha jogado um jogo onde o objectivo era perceber que tinha sido gozada e que era apenas manobra de diversão.

1,2,3,4,5 . . .
Não voltam a brincar com ela!

Toques

E são pequenos toques que nos fazem pensar, repensar e perceber que tudo o que acreditámos, tudo o que cremos talvez não mereça que assim seja.

Pequenos gestos, simples palavras que nos fazem parar no meio de uma multidão, sentir os encontrões que nos fazem balançar e decidir que não queremos continuar ali.


Rodamos os pés quase que como um impulso, sem que o cérebro tenha tempo de nos dizer 'não faças isso' e começamos a andar ao contrário de todas as outras pessoas.


Caminhamos ao contrário das restantes pessoas.


Desistimos do conformismo, lutamos contra os nossos próprios principios, para depois sim podermos continuar.


Delicados toques, que na sua leveza mudam tudo.


Simples e ao mesmo tempo tão complexos toques que nos fazem trocar o pensamento.