Querido avô,

Lembro-me da última e das poucas vezes que te 'visitei', como todas elas e que infelizmente são contáveis pelos dedos o que se torna vergonhoso e me deixa bastante triste.
Ás vezes gostava de passar mais tempo contigo sem receio que alguém aparecesse e me considerasse totalmente doida por estar a falar para um simples conjunto de pedras fixas num limitado pedaço de terra.
Como te deves ter dado conta, eu não rezo, sei o quanto a religião foi importante para ti, no entanto acho uma perfeita estupidez e desculpa escrevê-lo assim, mas é a minha forma de pensar, e por isso falo contigo. Não tanto como gostaria, mas falo...
Mais uma vez peço desculpa não te visitar mais vezes mas sofro de algo que pode ser e quase sempre é o nosso maior e maioritariamente único inimigo: o medo.
Medo de pensar outra vez em tudo mais que uma vez, medo de mim, das minhas reacções, medo de não conseguir expressar tudo o que me apetece. Muitas vezes recorro a abraços, e não sabes a vontade com que fico dos teus sempre que estou mais 'próxima de ti'. Não sabes as saudades que me traz, ter-te por casa, das tuas gargalhadas e boa disposição.
Como tens visto, as coisas mudaram, todos nós mudamos, onde temos dias melhores e outros piores.
Queria pedir-te desculpa por não ter estado ao pé de ti no dia de Natal, de não ter ido com eles ao pé de ti, mas não me sinto mesmo bem. Desculpa. E por isso fui no dia dos meus anos, e apesar de não o poderes ter passado connosco, quero que saibas que é como se lá tivesses estado.

Saudades
Catarina